terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Cultura da Convergência - Henry Jenkins


Henry Jenkins alerta-nos que a convergência "não deve ser compreendida principalmente como um mero processo tecnológico que une múltiplas funções dentro do mesmo aparelho", por mais sofisticado que possa vir a ser, mas sim como um fluxo de conteúdos que se cruzam através de múltiplos suportes mediáticos e onde o comportamento dos produtores e dos consumidores, e dos seus poderes perante sobre esses mesmos conteúdos, provocam interações muitas vezes imprevisíveis. Dentro da linha de pensamento, numa perspetiva mais ampla, encontramos outros cientistas sociais como Castells, Orteleva, Webster, etc., que nos dizem que “a sociedade não é a tecnologia mas sim a forma como nos apropriamos dessa tecnologia sendo essa apropriação fruto de inúmeras possibilidades. A geração da tecnologia ocorre num ambiente social e á influenciada por ele.” e ainda “As tecnologias são sociais nas suas origens e efeitos” (Cardoso, 2006 : 52,53)

Penetrando na brecha deixada por Henty Jenkins em “não deve ser compreendida principalmente”, questionamos se a sua visão da “Cultura de Convergência”, retida num tempo tecnológico já algo distante, (1ª ed. 2006), será exatamente a mesma que em 2013. Se o “principalmente” não terá outro peso atualmente, quando o estado de integração e de migração efetiva dos conteúdos dos suportes tangíveis para os intangíveis, fruto da digitalização massiva, e a sua partilha efetiva, atingiu níveis bastante elevados. O acesso aos conteúdos convergiu de forma vertiginosa para as plataformas web, através do XML, HTML5, etc., etc. Hoje, as múltiplas “caixas negras” não estão confinadas à sala de estar, singularizaram-se e agora acompanham-nos. Fala-se muito, por exemplo, de “tablets”, mas não tanto do seu sistema operativo, se OS/2, se Android ou Windows 8, simplesmente conseguimos aceder, publicar e partilhar. Mesmo as aplicações informáticas, algumas de alto desempenho, estão na “nuvem”. Hoje o novo paradigma computacional chama-se “cloud computing”, flui na Rede das redes, sendo também o web browser a interface privilegiada. Nestes 7 anos muita coisa mudou, arriscaria por isso: o “principalmente” de Henry Jenkins tem agora um maior peso na - actual - convergência, diria, facilitando-a, naturalmente!

Mas, no essencial, a convergência ocorre, de facto, “dentro do cérebro dos consumidores individuais e em suas interações com os outros". A convergência dá-se na confluência das fontes de informação junto dos seus utilizadores. As novas tecnologias mediáticas permitem que a informação flua por diversos canais tecnológicos e que um mesmo utilizador as receba de diversas formas, sendo ele o decisor, o responsável,, por ativar (ou não) a convergência da forma mais adequada às necessidades de contexto. Será uma forma de zapping informativo constante, procurando em pontos dispersos as fontes do saber - fruto da “inteligência coletiva” e da “cultura participativa" - o conhecimento convergente para alcançar determinado objetivo. No sentido inverso, como emissor, no colocar “de volta”, num processo cíclico   "arquivo, apropriação e recirculação do conteúdo das mídias", aditivada ou não, as premissas são muito semelhantes, como nos diz Jenkins os “consumidores estão aprendendo a utilizar as diferentes tecnologias para ter um controle mais completo sobre o fluxo dos mídia e para interagir com outros consumidores”. A convergência representa, de facto, uma mudança no modo como encaramos as nossas relações com os media. 

Desta reflexão atrevo-me a concluir que a convergência enriquece-se com a divergência tecnológica na produção e difusão de conteúdos nos diversos canais, potenciando a cultura participativa fora dos grandes media, mas também, e no mesmo sentido, com a possibilidade de convergência num único aparelho no acto de recepção.  Assim, atualmente, a “falácia da caixa preta” merece uma análise mais cuidada e menos acutilante, pois a convergência tecnológica actual facilita a recolha e a difusão da informação, ou seja, a cultura da convergência. 


 Jenkins, Henry. Cultura da convergência. São Paulo, Aleph, 2008.

Cardoso, Gustavo (2006), Os Media na Sociedade em Rede, Fundação Calouste Gulbenkian