sábado, 16 de fevereiro de 2013

Cibercultura e Cultura da Convergência


A cibercultura, segundo André Lemos, formou-se pela “convergência do social, e do tecnológico”, em que os seus contornos, inicialmente difusos, com a “inclusão da socialidade na técnica” – socialidade descrita por Maffesoli como um conjunto de práticas quotidianas (hedoísmo, tribalismo, presenteísmo, vitalismo, formismo) que escapam ao controlo social e que constituem o substrato de toda a vida em sociedade -, vai adquirindo contornos mais nítidos.

Inicialmente vista como uma contracultura, muito por causa das suas posições contra o totalitarismo da razão científica, da racionalização dos modos de vida e da Natureza, a cibercultura “não recusa a tecnologia”, e seria paradoxal se assim não fosse, pois a sua génese vem da própria razão científica: a cibercultura “emerge da relação simbiótica sócio-cutural e as tecnologias de base da micro-eletrónica.

Hoje, o próprio termo cibercultura é, por si só, menos estranho culturalmente, ou seja, as suas ferramentas tecnologias de partilha de emoções e de conhecimento, de convivialidade, de “retorno comunitário”, em suma, de conetividade sociocultural, vulgarizaram-se. Atualmente, a “cibercultura é a socialidade na técnica e a técnica na socialidade” têm contornos muito maís nítidos. Entre os muitos exemplos marcantes desta simbiose tecnológica, que atualmente chamaria discreta, encontramos a adoção das redes sociais pelos políticos, até pelo Papa, para a sua propaganda junto da comunidade e dos mass media. 

A cultura da convergência de Henry Jenkins dá enfase à inteligência coletiva e à cultura participativa, salientado que todo este processo é essencialmente cultural e não tecnológico. Em André Lemos não encontramos essa preocupação em afastar a técnica do conceito, mas sim uma maior aceitação de que a cibercultura e o ciberespaço enquanto forma técnica, são “ao mesmo tempo limite e a potência dessa estrutura social de conexões táteis, que são as comunidades virtuais […] um mundo saturado de objetos técnicos, será nessa forma técnica que a vida social vai impor o seu vitalismo (a socialidade) e reestruturá-la.” Ou seja, André Lemos vê-as mais com uma “sinergia entre a socialidade contemporânea e a técnica em que a primeira não rejeita a segunda.”

Nestes dois conceitos, cibercultura e cultura de convergência, encontramos como ponto comum: o impacto das tecnologias, especialmente a digital, na sociedade contemporânea. Ambos tendem a criar novos percursos comunicacionais e produzir conteúdos alternativos aos existentes no status quo dos poderosos mass media tradicionais. Isto no novo mundo digital, virtual, em que existe um grande potencial de partilha de conteúdos, tanto a nível individual como coletivo (fãs, chats, blogs, MUDs…), todos eles mergulhados na aparente liberdade onírica da Rede das redes.

Lemos, André. Ciber-Socialidade. Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea.
Jenkins, Henry. Cultura da convergência. São Paulo, Aleph, 2008