sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Máquina e o Imaginário - Mãos


MÃOS

“O problema não é saber se ainda podemos considerar “artísticos” objetos e eventos tais com o holograma, um espetáculo de telecomunicações, um gráfico de computador ou um software de composição musical. O que importa é perceber que a existência dessas obras, a sua proliferação, a sua implantação na vida social colocam em crise os conceitos tradicionais e anteriores ao fenómeno artístico…"

A fotografia colocou os mesmos problemas em relação à pintura. De uma forma simplista, uma máquina, por si só, fixa as imagens com um simples clique, ficando o  registo mais ou menos fiel à responsabilidade da ótica e da ação dos fotões sobre a  emulsão química da película, mais recentemente do sensor CCD. A mão do artista, do pintor, de forma inesperada, deixou de ser fundamental para reproduzir as imagens do mundo.

Da mesma forma, as artes que podem ser emuladas através da tecnologia, já não necessitarão da motricidade fina da mão do artista, do talento que modula diretamente o objeto artístico ao sabor da sua criatividade e do seu imaginário.

E esta mudança é significativa.

Nas artes que utilizam a tecnologia digital, os algoritmos, em última análise, as pincelas e as cinzeladas de bites, tudo é feito por outro tipo de mãos, mas com as mesmas mãos. A intervenção física do artista muda radicalmente, passando-se a utilizar outras partes do corpo e dos sentidos. Inevitavelmente, as mãos entram no processo, mas de outra forma, ficando o artefacto final a uma distância significativa ou até mesmo inatingível - ou não.



Curiosidade: Esta mensagem foi escrita antes da leitura do artigo de Santaella, Arte Híbridas, onde a autora fala desta problemática. Pensei em retirá-la, mas não, o  processo de aprendizagem e do auto-conhecimento é isto mesmo, somos interpelados constantemente por estas situações que acabam por ser positivas para nós próprios... acrescentaria: o potencial semiótico da  tecnologia digital.  


MACHADO, Arlindo. Máquina e Imaginário : O Desafio das Poéticas Tecnológicas, S.P., Ed, Use, 1993